Afinal, você sabe o que é desenvolvimento sustentável?
Atualmente, está cada vez mais comum ouvir falar sobre sustentabilidade, nada mais justo, já que o planeta Terra possui recursos limitados e precisa de mais atenção do que a mesma recebe. Debater sobre sustentabilidade é necessário para entendermos melhor sobre a situação na qual vivemos e ainda vamos viver, como diz o conceito “é preservar o hoje para garantir o amanhã”.
Durante o percurso do homem nesse planeta, ele se apropriou e dominou uma natureza que ele pensava que o pertencia, mas atualmente pesquisas estão mostrando o contrário. Situações como o clima, queimadas, agronegócio, são os principais tópicos que cercam as discussões sobre como combater o esgotamento de recursos naturais. Todo o caminho que percorremos até aqui foi o de extrair, produzir, vender, descartar e usurpar os recursos que nos foi proporcionada pela natureza, mas o uso está sendo descuidado, exacerbado e irresponsável, tudo contribuindo para uma poluição ambiental que talvez não tenha solução.
Ao contrário do que muitos pensam, a sustentabilidade não visa interromper desenvolvimento econômico, mas busca por meios alternativos de propiciar um ambiente sem agressão e que seja melhor para todos, pensando no presente e no futuro.
Em contrapartida a esses problemas, milhares de pessoas estão se conscientizando e atribuindo a educação ambiental como uma alternativa para preservar e conservar o que nos foi dado. Aí entra os produtos sustentáveis, cada vez mais presentes em nosso cotidiano, fazendo-nos enxergar uma nova forma de consumir sem agredir.

A madeira que é desperdiçada por madeireiras e movelarias pode ser transformada em arte. Esse material é um possível produto que só precisa de criatividade, boa vontade, ação e, existe uma infinidade de coisas que podemos fazer e transformar.
“Por que se joga tanta madeira fora?” essa foi uma das perguntas que ficou no imaginário de Wanda Lima, professora de música da Universidade Estadual do Amapá que, através da arte feita com peças de madeira reaproveitável, encontrou o hobby.
A sua fonte de inspiração surgiu por meio de uma lembrança, pois ela teve a oportunidade de trabalhar em um certo período com seu pai. Ele era moveleiro e percebeu que muitos materiais que eram desperdiçados poderiam ser reaproveitados. Por vezes Wanda ficou surpreendida com o tamanho dos das madeiras que iam para o lixo. Ela teve o segundo contato com madeira reaproveitável em 2009 quando foi a São Paulo, a sua relação com essa prática é um tipo de prazer pessoal que revela o seu lado artístico e, até mesmo visto por um olhar musical.
A artista comenta o processo de iniciação nessa modalidade e o que a surpreendeu fora do estado do Amapá: “Quando fui a São Paulo, vi o quanto o móvel de madeira era valorizado no ambiente e no design, porque a madeira remete ao símbolo de natureza e harmonia, isso traz paz ao ambiente.
Então comecei a estudar, pesquisei sobre esse tipo de produção, fui a movelarias e apanhei muito material que iria para o lixo. Comecei a produzir algumas peças com ideias da internet.”, explica.
Segundo ela, o processo de produção inicia no “garimpo” que, é a procura por madeiras de qualidade. Esse processo é facilitado pela própria cidade, pois, em Macapá é algo fácil de encontrar, como por exemplo na orla da Beira Rio, existem diversos troncos de arvores, no Canal do Jandiá e no bairro Pedrinhas também há madeireiras, e é um material comum no Estado.

Foto: Fernanda Lima
O Amapá leva o título e a popularidade de cidade com maior nível de conservação de floresta do Brasil. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no levantamento de degradação florestal na Amazônia feita entre o ano de 2007 e 2016 o Amapá teve o menor índice de áreas degradadas.
O potencial estado é visto por Wanda e, ela conta que apesar da abundância dessa matéria natural o que falta mudar é o olhar das pessoas sobre essas peças artísticas: “A madeira é algo tão comum no dia a dia dos macapaenses que as vezes ela não é valorizada como produto, não há reconhecimento quando você faz algo diferente, as pessoas não conseguem ver como um material artístico mas sim como um pedaço de madeira qualquer, os macapaenses ainda não conseguem observar a riqueza eu nós temos.”, observa.

Foto: Fernanda Lima

Foto: Fernanda Lima

Foto: Fernanda Lima
As peças são produzidas de acordo com a forma e o formato da madeira achada no processo de “garimpagem”, é através disso que surge a ideia da peça. Wanda afirma que é um trabalho inusitado. Dentre os produtos criados por ela, há artesanato, produtos para jardinagem, mesas, marchetaria e o que a criatividade pedir.

Foto: Fernanda Lima
Sustentabilidade em meio ao espaço urbano
Quando falamos em sustentabilidade, falamos em consumo consciente que, nada mais é do que a utilização de produtos ou serviços de modo pensado, levando em consideração o meio ambiente ao longo do crescimento da humanidade. Quem já visitou o Bioparque, sabe que o espaço em meio à natureza está cheio de arte em madeira espalhado por todo canto. São balanços, bancos, casa na árvore, diversas esculturas em todo o perímetro do parque e, as madeiras são oriundas de reciclagem.
O responsável pela produção das peças em madeira do Bioparque é Reginaldo Garen Silva, 47 anos, mais conhecido como Regi. É formado em artes visuais pela Universidade Federal do Amapá, trabalha com reciclagem de madeira há nove anos e, esse trabalho é a sua única fonte de renda fixa. As peças produzidas por ele foram retiradas de árvores caídas do próprio Bioparque, madeiras encontradas na Orla da cidade e, nas margens de rodovias.





O espaço que hoje é o Bioparque era conhecido como Parque Zoombotânico e, estava fechado há cerca de 20 anos. Nessa época, Reginaldo já elaborava peças em madeira, fez alguns trabalhos no local e, sua arte ficou conhecida desde então. A prefeitura de Macapá entrou em contato com o artista em maio deste ano, por conta dos antigos trabalhos no Parque Zoombotânico, para iniciar a produção das peças e, ele ainda conta que as mesmas ficaram prontas um dia antes da inauguração.
Para Reginaldo, criar essas peças foi mais que um trabalho, ele sente que está fazendo história dentro do Bioparque e, todo o processo de construção foi muito bonito. Ele não trabalhou sozinho, teve uma equipe no apoio. “Para mim foi uma honra trabalhar nesse projeto porque deixei um tipo de conscientização naquele lugar para as pessoas que o visitarão”, explica.
Uma parte das madeiras das peças foi retirada da própria floresta do Parque, usando as árvores caídas e até mesmo materiais que estavam enterrados. Reginaldo e sua equipe fizeram a verificação da qualidade das madeiras e, depois desse processo, começaram a produzir peça por peça. O grande objetivo do trabalho de Reginaldo é conscientizar as pessoas do que se trata a natureza, o que é a agressão da mesma e que, a natureza nos dá vários recursos, logo, “devemos cuidar dela, podemos empreender sem desmatar e, levar inovação para a população”, ressalta o artista.
Um dos trabalhos que o artista se orgulha muito é a casa na árvore, o qual teve o material doado por uma serralheria que não queria mais aquelas madeiras. Após a seleção do material, a serralheria fez todos os moldes e, em seguida, foram levadas ao parque em uma carreta. Uma coisa curiosa dessa obra é que partes da escada da casa foram feitas com casca de árvore.


A casa na árvore é decorada com traços indígenas esculpidos por Reginaldo. (Foto:/Fernanda Lima)
Outro trabalho interessante é o deck que, fica na área da praça de alimentação do parque. A escultura que é base da peça foi feita por Djalma Andrade, um dos membros da equipe de artesãos e, foi retirada da beira da praia do Rio Amazonas.
A sustentabilidade está ligada a ideias, atividades e práticas ecologicamente corretas que buscam a manutenção do meio ambiente e do planeta. A coleta seletiva e reciclagem do lixo, produção e consumo de alimentos orgânicos e, evitar o desperdício de água, são umas das práticas que possibilitam a sustentabilidade.
Logo na entrada do Bioparque, o visitante recebe uma espécie de sacola reciclável para que, no decorrer da visitação, o lixo produzido seja despejado no mesmo. O parque é grande e tem muitos lugares para explorar, como as trilhas, por exemplo, e não comporta lixeiros por todos os lados, por isso a iniciativa.

A campanha das sacolas individuais chama-se Lixo zero e, é uma pequena parte de um plano da prefeitura chamado Macapá rumo aos 300 anos, o qual tem metas a longo prazo que preveem avanços na evolução da cidade e na qualidade de vida dos seus moradores até o ano 2058, quando a cidade completará 300 anos.
O projeto tem como meta garantir um melhor planejamento urbano, preservação da identidade cultural, dinamismo na economia, inovação e acessibilidade. Outra meta importante é promoção da sustentabilidade ambiental e, a prefeitura acredita que pequenas atitudes, como essa do lixo zero, podem mudar o rumo da nossa cidade.

O primeiro momento do projeto se dá entre os anos de 2018 e 2020 través de coleta, seleção e análise de dados para a implementação do projeto. Uma pesquisa está sendo realizada para que, em conjunto com a sociedade, seja elaborado o plano completo. A pesquisa é online e tem duas fases, “A Macapá de hoje”, que prevê coletar dados básicos da cidade por bairros e, “A Macapá de amanhã”, que busca analisar o que a população almeja para a cidade no futuro. A entrega de todo o planejamento estratégico à população será realizada em um evento que acontecerá em fevereiro de 2020.
O secretário de planejamento do Município Paulo Sergio Abreu, 50 anos, diz que a ideia não é original do Amapá. Já existem projetos como o Pará 2030, Fortaleza 2040 e o Salvador 500 que, serviram como exemplo para incentivar as melhorias no município. “ O objetivo de todos esses projetos é ter um planejamento de longo prazo, com metas de curto, médio e longo prazo para que ao final do mesmo, se alcance a ideia de inovar nas questões culturais, estruturais, tecnológicas e ambientais da cidade, fazer com que as coisas aconteçam, para que quando o recurso chegar, termos um projeto pronto para executar”, explica.
Para garantir uma cidade sustentável é preciso pensar em ideias como essa. Imagine só, Macapá é uma cidade que carrega uma identidade histórico-cultural muito rica, além de estar cercada de recursos naturais e, cada cidadão precisa cuidar do espaço que ocupa. Uma pesquisa da revista científica Science mostra que, para vivermos em um ambiente mais puro, seria preciso plantar alguns bilhões de árvores. Não seria um trabalho árduo se cada ser humano plantasse pelo menos uma árvore, não é?!